Técnicas indígenas africanas de conservação da água

domingo, 23 de janeiro de 2011

Técnicas indígenas africanas de conservação da água
 
Segundo Reij (1991), na África, fatores como a erosão do solo, degradação da terra, desertificação, falta de planejamento e gestão dos recursos naturais e crescimento demográfico acelerado têm feito com que este continente se tornasse dependente da importação de alimentos e de colaboração de países externos para solucionar estas deficiências. A constante pesquisa que tem sido feita na África para solucionar esses problemas fez com que as técnicas indígenas de uso sustentável da água ressurgissem como forma mais simplificada e de baixo custo para conservação dos recursos hídricos.
 Segundo Reij (1991), diversas soluções para os problemas de abastecimento de água na África já foram pesquisadas, sendo que a transferência e inserção de tecnologias externas a comunidade foram totalmente fracassadas, pois tinham alto custo de implementação e ignoravam o conhecimento indígena como parte da solução. 
A importância dos saberes tradicionais como os conhecimentos indígenas africanos tem sido muito enfatizada por Santos (1989). Este autor critica o etnocentrismo imposto pelas sociedades européias e norte-americanas que acabam por desconsiderar os saberes africanos, asiáticos e sul americanos como saberes científicos. Santos (2007) também ressalta que “com a ecologia dos saberes, o pensamento pós-abissal tem por premissa a idéia da inesgotável diversidade epistemológica do mundo, o reconhecimento da existência de uma pluralidade de formas de conhecimento além do conhecimento científico”. Boaventura propõe uma globalização contra-hegemônica onde os conhecimentos não-científicos e não-ocidentais possam ser valorizados. Prinz e Singh (2000) enfatizam que as técnicas indigenas africanas de conservação da água têm ganhado prestígio atualmente. Dentro da diversidade de técnicas, a escolha da prática apropriada deve ser feita de acordo com a quantidade de chuva e sua distribuição, topografia, tipo de solo além dos fatores socio-econômicos. Reij (1991) cita a variedade de técnicas tradicionais e sustentáveis de uso da terra e da água africanas, tais como: sistemas de rotação de cultivo, proteção de árvores fixadoras de nitrogênio, terraceamento, sistema Teras, construção de diques e barreiros. Essas práticas, além de terem a função de conservar o solo e água, previnem contra a erosão. O autor conceitua as técnicas indígenas africanas como “práticas de engenharia-étnica”. Reij (1991) enfatiza que o emprego de técnicas de terraceamento nas montanhas marroquinas continua a ser feito pelos agricultores locais. Dimas (2002) conceitua terraceamento como sendo a "locação e construção de estruturas no sentido transversal a declividade do terreno com objetivo de reduzir a velocidade da enxurrada e seu potencial de destruição, como também subdividir o escorrimento superficial possibilitando a infiltração da água no solo, aumentando a retenção de água" .
 
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Outra técnica importante para as comunidades do continente africano, principalmente nas comunidades rurais do Sudão, é o sistema Teras. Segundo Engelmen e Leroy (1995), esta técnica consiste em “construir barreiras de pedras ao redor da colheita para obstruir a descida e escoamento da corrente de água das montanhas, além de favorecer na recarga das águas subterrâneas, na umidade do solo e no controle da erosão. Esta tem como principal objetivo aumentar a produção agrícola das regiões áridas da Africa, não estando diretamente relacionada com o aumento da recarga hídrica”. Reij (1991) enfatiza que o sistema Teras é particularmente interessante por este ser um dos poucos exemplos de práticas de engenharias-étnicas africanas que podem ser empregadas em área bastante extensa. O mesmo autor ressalta que este sistema é bastante difundido dentro dos grupos étnicos de Kassala e Hedendwua. Kassala se encontra na região semi-desértica ao norte do Sudão, apresentando solo aluvial com poucas árvores em sua extensão. O sistema Teras essencialmente é feito para o plantio do sorgo no Sudão. 

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Nas comunidades dos Camarões, Reij (1991) discorre que 20 diferentes grupos etnicos praticam técnicas indígenas de uso sustentável da terra e água. Na região de Mafa se encontram agricultores mais bem capacitados da região, estes desenvolveram um sistema intricado de terraceamento. Para que haja um controle da fertilidade do solo, os agricultores usam adubo animal e resíduos descartados do cultivo ao longo da área de terraceamento. Além da adubação feita no terreno, há rotação de cultivares. Na região da Somália, Reij (1991) caracteriza a conservação da água local como sendo tradicional e de pequena escala. A maioria das comunidades que utilizam práticas de conservação da água na Somália estão envolvidas em sistemas agropastoris que utilizam a água para cultivo e suplemento animal. A técnica de construção de “caag” ou “gawan” tem sido empregada ao longo de diversas gerações na região. Esta consiste em construir barreiros próximos aos cultivares para formação de pequenos lagos que se abastecem com a água excedente da plantação e com a água da chuva. Este sistema é totalmente tradicional, sendo implementado pelos próprios agricultores locais que possuem poucos recursos e usam a criatividade para formulação de técnicas modestas.

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